A Fluipress aproveita a oportunidade para parabenizar a Scania que desenvolveu o projeto BEST junto à prefeitura de Estocolmo e procurar minimizar o impacto ambiental. Conheça aqui o projeto que a Scania desenvolve em parceria com a USP e o IEE
Aprovada com louvor
Por que a sueca Estocolmo, com seus 800 mil habitantes, foi eleita a primeira capital verde da Europa
Por Viviane Maia, de EstocolmoO sol está a pino e a claridade invade o quarto do hotel, em Ringvägen, uma das avenidas mais conhecidas de Estocolmo, apontando ser mais de 10 horas. Mas não. São 2 horas da manhã. É verão na Europa. Neste período, na capital sueca, o dia amanhece bem cedo, como quem convida para aproveitar os momentos na cidade, gelada na maior parte do ano. Às 6 horas, os termômetros marcam 20ºC. Ewa Jonsson, 22 anos, recepcionista do hotel, termina seu turno e pedala 50 metros até o parque mais próximo. Lá, estira-se na grama, com seu biquíni azul (que as brasileiras diriam ser uma roupa de ginástica, de tão grande), e toma sol. “Não se pode ficar em casa com esse dia lindo. Quero ficar com a cor do verão”, diz Ewa.
Cerca de 95% da população de Estocolmo vive a menos de 300 metros de uma área verde e como ocorre agora, no verão, os parques ficam repletos. Até pais que, a exemplo das mães, também usufruem de licença remunerada, costumam ser vistos empurrando os carrinhos de seus bebês. Alguns desses parques contam com piscinas aquecidas e vestiários para quem quer dar um mergulho antes do trabalho.
Não se vê nenhuma embalagem ou qualquer tipo de lixo no chão. Nas ruas, nos parques, no metrô, nenhum papelzinho fora do cesto. É um país que avança no pioneirismo do desenvolvimento sustentável. E vai muito além do discurso. As ações sustentáveis como reciclagem de lixo, uso de energia alternativa nos ônibus e tratamento de água estão à vista nas ruas. Não por acaso, Estocolmo foi apontada pela União Europeia como sua capital verde, em fevereiro passado.
Em Hammarby Sjöstad (pronuncia-se Ramarbi Chustade), o bairro ambiental-modelo de Estocolmo, as lixeiras são bem diferentes daquelas a que os brasileiros estão habituados. Elas têm canos acoplados à sua superfície e, assim como as nossas, também têm cores indicando qual resíduo deve ser descartado. Mas o lixo separado é sugado a vácuo pelos tubos que percorrem o subterrâneo do bairro até o depósito de coleta. É de lá que os caminhões o recolhem, também por sugadores. O lixo orgânico vira adubo ou gás. O restante vai para reciclagem. Os produtos não reciclados (como isopor, por exemplo) são encaminhados para uma usina de incineração também geradora de energia. De acordo com Erik Freudenthal, gestor das ações de meio ambiente de Hammarby Sjöstad, a quantidade de resíduos domésticos encaminhados para os aterros deverá ser reduzida em 15% entre 2005 e 2010. Já o volume de resíduos que podem demorar centenas de anos para se desintegrar (como garrafas PET) diminuiu em 50% até o início deste ano.
Freudenthal acredita que até o próximo ano 80% dos resíduos alimentares do bairro receberão tratamento biológico para se transformar em nutrientes para plantas, e serão utilizados também como energia. O paulistano Mauro Silva, gerente de comunicação da Ericsson, mudou-se para o bairro há um ano e meio, assim que chegou na capital sueca. Ele diz ter se surpreendido com o grau de consciência dos moradores. “Aqui todos têm essa preocupação de que os impactos que causamos no meio ambiente são feitos por escolhas diárias.”
Antes de se transferir, Silva recebeu uma ligação de representantes da comunidade que fizeram uma espécie de interrogatório sobre sua vida e seus costumes. Hammarby era uma antiga área degradada por dejetos industriais e se tornou um bairro planejado quando a cidade pretendia sediar a Olimpíada de 2004, que acabou ocorrendo em Atenas. De lá para cá, o bairro tornou-se uma solução para o déficit habitacional da cidade. Quando sabatinaram Silva, eles queriam saber tudo: onde trabalhava, por que escolheu morar no bairro e se conhecia a história do lugar e o conceito de bairro sustentável. A sabatina tinha um propósito. Silva era o primeiro estrangeiro a se mudar para o bairro e não poderia infringir as regras do meio ambiente. Só depois de uma longa conversa pôde se mudar oficialmente. Mas não ficou livre da visita dos moradores. Logo no segundo dia em que estava instalado no bairro, foi convocado a fazer uma espécie de tour sustentável para se integrar e saber, principalmente, como funcionava o sistema de reciclagem, como dividir o lixo e em qual tubo depositá-lo. “Foi um curso de sustentabilidade”, diz.
Além de ponto turístico, Hammarby tornou-se uma área altamente valorizada. Hoje, um apartamento de 80 m2 é vendido por 400 mil euros (o equivalente a R$ 1,2 milhão). Em Estocolmo, nada é desperdiçado. Os raios solares são captados pelos telhados de prédios e casas cobertos de painéis, armazenados em caldeiras e transformados em energia em um enorme depósito subterrâneo de granito. É uma das maneiras de enfrentar o rigoroso inverno, quando as temperaturas chegam a 20ºC negativos. Esse sistema garante 60% de redução no uso de energia convencional.
É costume entre os suecos beber água diretamente da torneira. Do ponto de vista da pureza, não existe diferença entre essa água e a comprada em garrafas. Sem cheiro nem gosto de cloro, a água é tratada pela Estocolmo Water Company e certificada com os selos ISO 9001 e ISO 14001 (o mais avançado certificado ambiental em vigor). Sua transparência é visível numa das mais concorridas atrações turísticas da cidade, um bar feito do gelo de uma nascente de rio, que o deixa mais translúcido.
Como medida para evitar o desperdício de água, uma ação comum em toda a Europa e que começa a ganhar espaço também no Brasil, mesmo que ainda timidamente, é o botão de descarga no banheiro dividido em dois. O menor deve ser usado para a urina e, assim, proporciona uma economia de água.
Os ônibus movidos a etanol rodam com sucesso e economia desde 1989. Ao lado da porta, há a inscrição “green bus”, que poderia ser interpretada como ônibus movido a etanol. Na capital, 25% do transporte coletivo é feito com combustível renovável. A perspectiva é que até 2011 metade da frota utilize etanol ou biogás. Isso não se limita a Estocolmo. Na Suécia, a compra do etanol está isenta de impostos. O governo quer que os carros parem de usar combustíveis fósseis até 2030. A previsão faz parte de um plano para se tornar livre do petróleo. Até lá, segundo Andreas Carlgren, ministro do Meio Ambiente, os veículos devem usar combustíveis alternativos, como eletricidade ou etanol de segunda geração (celulósico). Atualmente, 85% dos carros vendidos na Suécia pela fabricante Saab rodam com etanol. “Grande volume do etanol produzido no Brasil é consumido na Suécia”, afirma Carlgren.
Assim como acontece com a água, as empresas de ônibus de Estocolmo também têm a certificação ISO 14001. A Scania, fabricante sueca de caminhões e ônibus, já vendeu cerca de 600 coletivos movidos a etanol para a prefeitura desde 2007. Desse total, 400 rodam nos limites de Estocolmo e a previsão é substituir 2 mil ônibus da frota intermunicipal que ainda operam com diesel por veículos a etanol até 2020. “Estamos altamente comprometidos com a fabricação dos ônibus movidos a etanol”, afirma Leif Nyström, gerente de vendas da Scania. No Brasil, terra do etanol e de uma filial da Scania, os ônibus ainda não saem de fábrica com esse combustível.
Os números da cidade mais sustentável da Europa
>>> Estocolmo, capital da Suécia >>> Área Está situada num arquipélago de 14 ilhas, unidas por 53 pontes. É conhecida como Veneza do Norte >>> População 807.311 habitantes >>> PIB US$ 110 bilhões (35% do total do país) >>> PIB per capita US$ 24 mil >>> Emissão de CO2 Responsável por emitir metade dos gases de efeito estufa do país >>> Maior empregador 85% dos trabalhadores estão no setor de serviços, O turismo de negócios movimenta US$ 2 bilhões por ano >>> Turismo 7,5 milhões de estrangeiros por ano visitam Estocolmo |
A opção pelo etanol não é apenas uma questão econômica mas também de consciência ambiental, embora o preço seja um fator importante. No final de junho, o biocombustível era vendido a 9,5 coroas suecas por litro (o equivalente a 0,87 euro), ante 12,6 coroas suecas (1,1 euro) por litro de gasolina. É semelhante à diferença de preços entre o álcool e a gasolina que encontramos em postos brasileiros. Poucos suecos consomem o produto oriundo do petróleo. De acordo com o Ministério do Meio Ambiente, o país depende de petróleo para suprir apenas 30% de suas necessidades de energia, em comparação com os 77% registrados em 1970, uma proporção oposta à dos Estados Unidos.
Os suecos não querem depender apenas de um combustível para o transporte urbano. Ônibus híbridos que geram energia elétrica e a utilizam para aceleração estão em fase de teste. Com o sistema, segundo os especialistas, é possível economizar 25% do combustível, o que significa um quarto a menos de poluição atirada no meio ambiente.
As bicicletas fazem parte da paisagem sueca. Principalmente no verão, que se prolonga até setembro, há um grande estímulo para sua utilização. Quase todas as calçadas são cortadas por ciclovias. Nos trechos em que ainda não existem, é possível ver pessoas pedalando ao lado dos carros nas ruas, num convívio civilizado. NWada de buzinas e atropelamentos. Para quem não tem bicicleta, é possível alugar uma em um posto específico nas estações de metrô. A devolução pode ser feita em qualquer posto da cidade. Esse tipo de iniciativa começa também a ser vista no metrô de São Paulo.
Um dos estímulos para o uso dos transportes alternativos ou coletivos foi a criação de um pioneiro sistema de tarifação de veículos. Desde janeiro de 2007, Estocolmo passou a ter pedágio urbano no centro. Durante a semana, das 6h30 às 18h30, os motoristas pagam taxas de no mínimo 10 coroas suecas (R$ 2,45) até 60 coroas suecas (R$ 14,45), que variam conforme a hora e o número de vezes em que o carro cruza o radar. A cobrança é feita por meio de boleto bancário, com a foto da ocorrência, como nas multas de velocidade ou rodízio das cidades brasileiras.
De acordo com Ulla Hamilton, vice-prefeita responsável pelas ações ligadas à sustentabilidade, o congestionamento caiu pela metade e a poluição do ar foi reduzida em até 14% depois do pedágio. A frota de ônibus ganhou mais 200 veículos e os horários do metrô foram ampliados. “Carros flex estão isentos de pedágio”, diz Ulla, que vai de bicicleta ao trabalho. Às 18 horas, no verão sueco, com 22 graus e uma leve brisa à sombra, as bicicletas assemelham-se a uma colônia de formigas próximas ao píer do lago Mälaren, em frente ao palácio real. Elas dividem espaço com os barcos, que são o objeto de consumo dos suecos, amantes da vela, um dos principais esportes nacionais.
Próxima aos bares do píer, uma faixa lembra: “Winner 2010 European Green Capital” (Campeã 2010, capital verde da Europa). Outras faixas estão espalhadas pela cidade. No aeroporto internacional de Arlanda (a 30 minutos de Estocolmo), no Museu Nacional e até numa viela do centro da cidade, onde duas jovens tocam violino na companhia do pai, que as acompanha ao violão, em uma apresentação para os turistas. É o orgulho da maior cidade da Suécia. Ulla afirma que a prefeitura tem como missão obter a adesão das empresas a essas práticas. Para tanto, foram criados benefícios, como subsídios na compra de terrenos e isenção de impostos. Em contrapartida, companhias como Electrolux, Ericsson e Scania investem na modernização de seus processos para obter eficiência energética e redução de emissão de CO2. O relatório oficial sobre impacto climático aponta que as emissões de CO2 por pessoa recuaram de 5,4 toneladas, em 1990, para 4 toneladas, em 2005. “Nossa meta é reduzir pela metade, até 2020”, diz Ulla. Essa preocupação alcança o aeroporto. A SAS, que faz voos para a Alemanha e a Dinamarca, implementou o pouso verde. Os aviões aterrissam em curva, como se estivessem descendo degraus, em vez de no modo tradicional. Com isso, é possível economizar 20% de combustível. Ótimo para um setor que responde por 2% das emissões. Num desses voos, quem se despede de Estocolmo sente que contribuiu para reforçar o título de a cidade mais verde da Europa.
Fonte: Época Negócios 04/08/09 - A jornalista Viviane Maia viajou a convite da Ericsson.